Resenha
Os autores iniciam o artigo citando LEFEBVRE, HARVEY E CASTELLS e afirmando que esses pensadores têm em comum a ideia de que o espaço coletivo é construído por diferentes relações sociais que por lá se constituem. Os estudos das ciências sociais, a fim de investigar e enquadrar o campo social do que é a cidade, tentou discutir, a princípio, as mesmas em um plano de contraste entre bairros nobres e bairros operários; bairros de melhor infraestrutura e bairros carentes de investimentos. Áreas da geografia(topografia e condições climáticas) e da etnografia foram utilizados para tais pesquisas para aprimorar o estudo das ciências sociais sobre as cidades : seus habitantes; seus comportamentos; o solo em que habitam. A partir disso, surgiu a concepção de cidades na visão dualística de centro-periferia. Porém, mais tarde, teóricos especialistas questionaram a ideia de “centro-periferia” nas cidades, uma vez em que os próprios bairros de grandes cidades haviam diferenças entre si , negando que a manifestação desta seja possível em somente dois ambiente, onde é possível fragmentar a cidade em vários espaços diferentes entre si de acordo com a ocupação territorial.
Para a metodologia de estudo dessa pesquisa foram criados indicadores com a utilização de dados habitacionais, populacionais e de condições sanitárias e de higiene dos últimos quatro Censos, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1980; 1991; 2000; 2010); das características das viagens diárias da população, estabelecidas na pesquisa origem-destino do Metrô de São Paulo, de 2007; das áreas de risco (geológico) identificadas pela prefeitura do município de São Paulo (PMSP) em 2010; e das áreas de expansão urbana e de proteção aos mananciais. Esses dados, compatibilizados com os setores censitários, em vigor no último Censo (2010), serviram de base para a criação de indicadores intraurbanosAssim, a junção de todos esses dados e indicadores, regiões da cidade foram divididas em oito grupos(de A à H), de acordo com suas características semelhantes de demografia,econômicas,históricas e topográficas, etc.
O primeiro grupo, o “Grupo A”, abarca, quase que por inteiro, a região central paulistana. Área caracterizada pela mais antiga urbanização da cidade (urbanização antes de 1930), na qual foi finalizada na década de 1960. É onde se encontra a maior proporção de verticalização(apartamentos), quase 76%, e a de menor proporção de residências localizadas em áreas de proteção mananciais e de aglomerados subnormais(ocupações irregulares, como favelas).Comporta regiões de maior taxa de alfabetização da cidade e com maior concentração de chefes de família (99%) de alta renda, além do baixíssimo índice de violência e homicídio.O “Grupo B”, que reúne outra parte da região central, porém,com a diferença de que a urbanização se iniciou a partir dos anos 1930, indo até meados de 1980. Possui semelhanças com o Grupo A no que se refere às condições sanitárias e o tipo de habitação , porém distintos no que diz respeito às moradias improvisadas (uma variação de 0,2% a mais).
O “Grupo C” teve seu processo de urbanização entre as décadas de 1950 e 1960, período que também corresponde o início da degradação do centro da capital paulista, o que significa a migração de pessoas de baixa e média renda que moravam pelo centro chegando para áreas mais afastadas da cidade. O “Grupo D”, assim como o Grupo C, obteve seus setores foram urbanizados de forma mais intensa entre as décadas de 1950 e 1960. Há menor incidência de instalação sanitária, comparado aos grupos anteriores, tendo áreas mais periféricas e a infraestrutura mais deficitária. Também apresenta menor número de coleta de lixo e maior proporção de aglomerados subnormais.
O “Grupo E” foi urbanizado no mesmo período que os grupos C e D, cujo o maior crescimento da região foi a partir dos anos 1990. Possui a maior proporção de aglomerados subnormais e de domicílios improvisado, em comparação aos grupos anteriores, e o menor índice de chefes de família de alta renda (0,1%).
O processo de urbanização do “Grupo F”, entre os anos de 1950 e 1980, perdurando até o ano de 2010. O grupo evidencia altas taxa de homicídio e maior proporção de setores do tipo aglomerado subnormal, localizados em zona de proteção aos mananciais e em área de risco , sendo esta última particularidade a que melhor o identifica.Esse grupo abrange setores em áreas de habitações precárias, nos limites externos da cidade.
Crescente urbanização entre as décadas de 1960 e 1970, porém ainda preserva uma parte do território rural (4%). Há alta densidade demográfica e de aglomerado subnormal. Caracteriza-se pelo desenvolvimento intraurbano : urbanização desordenada e o aumento da favelização.
Considerado o grupo que abarca a maior concentração de área rural na cidade de São Paulo, o “Grupo H” teve seu período de urbanização foi entre o ano 1975 e de 1985. Possui os piores índices de atendimento de água, esgoto e coleta de lixo; baixa densidade demográfica; baixo índice de chefes de família de alta renda; região onde se encontra maior índice de homicídios.Menores índices de ocupação humana de cidade de São Paulo.
O autor, por fim, alega que a cidade de São Paulo possui, ao menos, oito diferentes tipos de fragmentação urbana na escala micro/local, nos quais não refletem nas divisões político-administrativas vigentes, o que gera uma incongruência entre a gestão pública e a estrutura da cidade. O espaço fragmentado e heterogêneo da cidade pode ser explicada pelo período e pela sua forma de ocupação, junto as condições socioeconômicas de seus habitantes, influenciado também pelo viés político-ideológico de seus governadores, o que vai além do conceito de centro-periferia. Por isso, o autor acredita que as divisões político-administrativas determinadas pelo governo municipal não abrangem, de fato, as particularidade de cada região, mas apenas visa a localidade e a proximidade desses tais territórios, o que pode causar problemas na gestão municipal, uma vez que, como demonstrado ao longo do artigo, bairros próximos, muitas vezes, possuem características diferentes entre si. É importante que gestores tenham conhecimento das situações intrarregionais e de seus padrões urbanos para melhor intervenções de políticas públicas, feitas de forma mais estratégicas e efetivas
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Nery, M., Souza, A., & Adorno, S. (2019). Os padrões urbanodemográficos da capital paulista. Estudos Avançados, 33(97), 7-36.Disponível em :<https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2019.3397.002> Acesso em: 27 de julho de 2020
Texto disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142019000400005&tlng=pt