“O voto em branco poderia ser apreciado como uma manifestação de lucidez por parte de quem o usou.” Declaração do Ministro da Justiça durante reunião ministerial (Ensaio sobre a lucidez, 2004, p. 172).
Por Lucas Bravo Rosin e Ícaro Targino, para o Leituras Quase Obrigatórias
Informações do texto |
Autor: José Saramago |
Idiomas: Português |
José Saramago está na galeria dos maiores escritores da história literária portuguesa. Do período contemporâneo, é provavelmente o mais aclamado pela critica, tendo sido agraciado com um Nobel de literatura em 1998. Autor de clássicos como “Memorial do Convento” (1982), “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra” (1986), “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991), “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995), “Todos os Nomes” (1997), entre outros, se notabilizou por sua escrita corrida, seus diálogos encavalados, o uso peculiar da pontuação, além da criatividade fantasiosa, em alguns momentos, assustadoramente real, fazendo com que os mitos e a realidade se confundam.
A obra de Saramago é provocadora; diversos acadêmicos dedicam tempo à análise das obras do autor. Adriano Schwartz, professor de literatura contemporânea da EACH-USP, é um representante desse campo, uma vez que analisou obras de Saramago em diversas ocasiões, inclusive em sua tese de doutorado.
Poderíamos indicar diversas obras do autor, mas, especificamente para os fins desse projeto de extensão, cumpre destacar o livro “Ensaio sobre a Lucidez” (2004). O leitor irá se perguntar: por que esse livro em especial? Vejamos o enredo: Em um domingo de chuva torrencial, delegados eleitorais aguardam aflitos pelos primeiros eleitores, afinal, é dia de eleição. Como se fossem orientados por uma força maior, às 16 horas, todos os cidadãos saem as ruas para votar. Porém, esse comportamento harmônico não será o mais estranho de toda essa história; impressionante mesmo será o resultado das urnas: 70 % de votos em branco. O partido no Poder – partido de direita ou p.d.d. – convoca novas eleições e o resultado confirma: 83% da população da capital perderam a fé no sistema representativo. E agora, José (Saramago)?
É comum presenciarmos em períodos eleitorais, correntes de mensagens fazendo campanha pelo voto em branco; certamente, quem propaga essas ideias não dispõe de espirito cívico para tal, mas, ainda assim a questão é interessante. Em meio à envolvente tônica do autor, floresce esse ousado debate político: afinal, o quê aconteceria se o resultado de uma eleição apontasse para a maioria de votos em branco? Visando propor uma “resposta”, Saramago alimenta nosso imaginário e propõe um cenário possível – ou impossível? -, explorando o comportamento dos atores, sociais e políticos, e das instituições envolvidas. Ficou curioso? Pois então, a dica está dada!
Para saber mais
Leia antes o livro “Ensaio sobre a cegueira”, do mesmo autor. Em que pesem as diferenças estruturais, o filme homônimo do diretor brasileiro Walter Salles serve para ambientar o leitor de “Ensaio sobre a lucidez”.
Referências
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a lucidez. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.