O ciberespaço como arquitetura da liberdade – tentativas de territorialização e controle da rede

A ideia central do texto é tratar da tentativa de territorialização e controle de rede que o ciberespaço está sujeito, -parte do pressuposto que ocorre no virtual, logo, regulamentar acaba se tornando um grande desafio-. Ao longo do artigo são apresentadas exemplificações de regulação do âmbito virtual e suas limitações, além de abordar como o cyberativismo contribui para a democratização da representação civil e, por último, finalizando com os efeitos positivos e negativos relacionados às duas temáticas principais, internet e ciberespaço. 

     No início do texto, o autor perpassa por métodos de regulação no âmbito virtual, como por exemplo, a AOL, -portal e provedor de serviços online com sede em Nova York-, que “não permite que o visitante tenha acesso a determinados sites ou listas de discussão por serem pornográficos, imorais ou representarem perigo à segurança nacional dos EUA” (MACHADO. 2002), desse modo, em um primeiro momento, isso pode se mostrar como algo incompatível ao que se compreende por rede, pois o ciberespaço foi criado exatamente para ser o oposto disso, ou seja, um ambiente virtual, flexível e sem vínculos fixados à geografia convencional (MACHADO. 2002). 

     O artigo também cita alguns aspectos negativos em relação à tentativa de controle das redes. Isto é, formas de perda de privacidade e contenção da liberdade de expressão das pessoas, como é o caso do uso dos “cookies” e o monitoramento por parte do governo, que, muitas vezes, se mostram ineficientes em relação seu objetivo mor. Para exemplificar, o autor utiliza estudos realizados pela EFF (Eletronic Frontier Foundation) no ano de 2002, como é o caso do programa que bloqueou conteúdos de aprendizado LGBT, informativos sobre câncer de mama, AIDS, entre outros, por classificá-los como “conteúdos impróprios”. 

     Além do que foi apontado anteriormente, Machado faz um paralelo com a questão dos movimentos sociais que, por meio da era digital de informação, encontraram uma forma de se expandir com maior facilidade, ou seja, enquadrando-se como uma nova forma de representação democrática, assim como defende a autora, Saskia Sassen. A ideia central de Sassen é explicitar que, por meio da multiplicidade de interesses públicos existentes no ciberespaço, a sociedade civil consegue se interconectar e, assim, fazer frente às influências de grandes corporações. Logo, enquadrando-se como um modo de democratizar a representação. 

     Já no contexto de cyberativismo, o autor mostra dois exemplos, um mais inofensivo e outro mais extremo. O primeiro deles, diz respeito à manifestações políticas nas plataformas digitais; e, o segundo, à invasão de servidores como forma de protestar. Desse modo, é notável que o cyberativismo contribui para as práticas democráticas, uma vez que possibilita as articulações políticas e sociais de maneira independente a um determinado território. Em uma das últimas seções do texto, o autor retrata casos mais autoritários no controle da rede e do cyberativismo, em específico, de Cuba, China, Arábia Saudita e Bielorrússia, demonstrando exemplos práticos de que forma os respectivos governos controlavam o que poderia ser acessado e o que corresponderia a crimes digitais. Para exemplificar, em Cuba, os protestos anti-governo eram caracterizados como uma infração, portanto, passíveis de punição. 

      Continuamente, o autor trata de comunidades de ativistas e hackers que, de certa forma, auxiliam na quebra dos sistemas de censuras em casos de países mais autoritários. Um exemplo de programa desenvolvido para essa finalidade é o “Peekabooty”, que “derrota bloqueios e filtros, através de um sistema em que a informação é transmitida por sua rede de servidores (Peekabooty network) ao internauta de forma criptografada” (MACHADO. 2001), possibilitando ao usuário acessar o site que foi banido, através desse programa, como se fosse uma conexão comum.   

      Já em fins conclusivos, Machado (2001) focaliza as inúmeras ações positivas associadas à internet e ao ciberespaço, sendo elas: a internet possibilita que movimentos sociais, mesmo que pequenos, consigam se espalhar pelo mundo (nas palavras do autor, “A voz dos sem voz”); permite que países que estão passando por períodos autoritários rompam com o silêncio provocado pela censura através de denúncias online que, por consequência, chegam a diversos outros países; o ciberespaço viabiliza a integração/articulação entre cidadãos de toda esfera global, contribuindo, segundo Lévy (2001), para a formação da inteligência coletiva. Além de ressaltar o limite e o desafio do ciberespaço, sendo eles, respectivamente, o fato de ser virtual, uma vez que se eventualmente for desconectado retornaria à sua realidade objetiva; transformar o acesso à rede universal, isto é, alcançando principalmente países mais pobres. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

  • EFF (2002) Why Blocking Technology Can’t Work, Electronic Frontier Foundation, http://www.eff.org/Censorship/Censorware/ . 
  • Lévy, Pierre. Cybercultura (2001), Ed. 34, S. Paulo.
  • Machado, Jorge A. S. (2001) Consideraciones sobre la Dimensión Ideológica de la Globalización, la Realidad Virtual y sus Contradicciones, Internet: http://www.forum-global.de/soc/bibliot/machado/ideologl.htm .
  • Sassen, Saskia (1998) On the Internet and Sovereignty, International Journal of Global Legal Studies, Spring 1998; Volume 5, Issue 2. (on line: http://ijgls.indiana.edu/archive/05/02/sassen.html). 
  • S. MACHADO, Jorge Alberto. O Ciberespaço como Arquitetura da Liberdade – Tentativas de Territorialização e Controle da Rede. In: ALVES, Giovanni et al. Dialética do Ciberspaço – Trabalho, Tecnologia e Política no Capitalismo Global. [S. l.]: Ed. Práxis, 2002. Disponível em, <http://www.forum-global.de/bm/articles/ciberespaco_territorializacao_jorgemachado.htm>. 

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