A mobilidade urbana deve ser atrelada a área de planejamento urbano,qualidade de vida e bem estar, uma vez que mais da metade da população mundial vive nas áreas urbanas. Soma-se a isso aos avanços da inovação tecnológica, o conceito da cidades inteligentes, a crescente busca de dados abertos e a  participação social, as cidades do século XXI precisam estar aptas e essas transformações.

A mobilidade urbana é citada na Constituição Federal de 1988,  como “competência privativa da União instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, enquanto a política urbana é de responsabilidade do município, que deve garantir as funções sociais da cidade e o desenvolvimento dos cidadãos”(CF/88,BRASIL).

A partir dos anos de 1950, a cidade de São Paulo passa por um grande crescimento populacional e uma crescente urbanização. Desde então, gestores que assumiram cargos de executores ao longo das décadas, construíram um planejamento e uma infraestrutura baseados, prioritariamente, a fim de atender a sua  frota  de veículos individuais. Além do mais, muitos gestores concentraram investimentos de infraestrutura e planejamento  nas áreas centrais da cidade e em suas extensões,bem  como nas regiões mais nobres, o que resultou numa desigualdade territorial e déficit de infraestrutura nos lugares mais afastados dessa região – as periferias.

Atualmente, essa desigualdade  territorial se  expressa na dificuldade de pessoas afastadas das regiões centrais em se deslocarem ao longo da cidade, reflexo de uma distribuição desigual de oferta de trabalho,lazer,cultura,saúde e educação. Essa população,que já é, sem sua maior parte, a população de baixa renda da cidade,são prejudicadas com essa falta de articulação de modais rápidos para se transportarem a esses locais. 

Um dos elementos utilizados para viabilizar essa problemática, como enumerado pelo artigo, é no uso dos dados, que são,citados no texto:

(…)fundamentais tanto para a compreensão da realidade e a identificação dos problemas, quanto para a criação e a melhoria de serviços e produtos. O avanço tecnológico consiste não apenas em coletar os dados, mas também em saber gerenciá-los, combiná-los a partir de diversas fontes e fazer um uso inteligente das informações, com tomada de decisões a partir de uma análise contínua, atualizada, ampla e sistêmica.   “sem o dado, o serviço não será inteligente, só será um serviço” .

Na visão dos autores, esse método iria impactar de forma positiva o gerenciamento de transportes urbanos, ocasionando resultados,tais como,  a maior transparência no governo, criação de insumos para indicadores e o incentivo à participação popular. Os autores dizem que muitos setores públicos possuem dados suficientes para serem integrados que auxiliaria em uma política pública nesse setor, entretanto, há dificuldade em integrar esses dados devido, principalmente, a falta de articulação desses diversos setores e ,muitas vezes, a omissão do poder público em criar normas no que diz respeito às diretrizes para esse compartilhamento de dados:

“Por que que às vezes determinadas áreas do setor público não cedem dados para outras áreas do setor público? Porque o fato dele ser o “dono do dado” o dá poder. Muitas vezes você precisa de duas forças diferentes: demanda de baixo e martelo de cima, se não estiver acontecendo esses  dois  ao  mesmo  tempo  muito  provavelmente  não  haverá  disposição  para  abrir  os  dados” 

O texto faz uma ressalva de que,junto a ampla utilização dos dados, é também preciso criar mecanismos de proteção aos mesmo, para que, assim, diminua ou não exista riscos de perda ,fraude e manipulação por terceiros.Portanto, é imprescindível que o Estado  crie políticas e legislação adequadas, que visam maior responsabilização da publicação desses dados e prover maior transparência de como serão trabalhados.

Reflete-se, também, sobre o futuro da mobilidade urbana nas cidades, e cita um artigo publicado pela empresa Deloitte(2015) , que indica cinco direções principais:

 o foco do planejamento a partir da perspectiva do usuário; a integração e a inteligência dos sistemas de mobilidade, tendo impacto direto na promoção da intermodalidade e autonomia do usuário para a escolha da frota; a flexibilização de tarifas e pagamentos, como sistemas de integração e precificação dinâmica dos bilhetes e unificação de plataformas de pagamento; a automação e a segurança dos sistemas em diversos níveis, desde a automatização de bilhetagem até veículos autônomos; e a inovação nos setores público e privado, que inclui novos formatos de parcerias.

Diante dos fatos expostos, o artigo questiona se existe na cidade de São Paulo uma  perspectiva de mobilidade urbana inteligente e chega a conclusões que é possível observar algumas medida implantadas que podem se caracterizar como modelo de cidade inteligente, como :setores do trabalho que permitem flexibilização de horários; integrações e tarifas diferenciadas de acordo com horários; teletrabalho;regulamentações para circulação de automóveis individuais; frota de ônibus que produzem energia limpa. Nas companhias de transportes coletivos,pode-se observar uma maior  disponibilização de dados do serviço, no qual é possível o  monitoramento dos horários das operações de ônibus, no qual é difundido nos portal institucional da companhia, na central de atendimento da cidade e também difuso nos mais diversos aplicativos móveis.Há, também, iniciativas vindas da sociedade civil, no qual grupo de desenvolvedores criarem apps com a utilização e compartilhamento de dados, os chamados mapeamentos colaborativos, por exemplo, existe apps que alertam áreas de riscos para mulheres e lgbts, por exemplo. No entanto, é possível identificar alguns problemas:

essas iniciativas têm pouca visibilidade, elas são numerosas, porém muito fragmentadas, e, consequentemente, diferentes atores atuam nas mesmas áreas sem estar necessariamente cientes disso. Esses fatores geram uma dificuldade de acesso à informação por parte do usuário ou usuária. Além disso, observa-se uma falta de posicionamento do poder público. Por fim, nota-se que são poucas as iniciativas desenvolvidas para oferecer soluções alternativas para a integração dos territórios periféricos.

Um dos principais apontamentos da dificuldade  em implantar políticas públicas quanto a mobilidade urbana na cidade de São Paulo, é a descontinuidade administrativa. Devido a alternância de gestores e partidos no  poder das decisões, o que muitas vezes podemos observar são encontros de ideais divergentes quanto às resoluções da mobilidade urbana. Ainda no que tange às diversidades partidárias, é a governança metropolitana, no qual, também, se esbarra em diferentes tipos de governos dentro da região metropolitana de São Paulo, que podem possuir discordâncias  quanto às implementações de normas, como na integração de modais e tarifas. Somado a isso, há casos de corrupção,crimes, e improbidades administrativas que surgem tanto de companhias prestadoras de serviços quanto de políticos e funcionários de cargo público.

Por fim, os autores  trazem suas recomendações, como implementar políticas públicas a partir de evidências e não de estimativas Para isso, é efetivo o constante uso de pesquisas científicas ,dados estatísticos e pareceres de especialista na hora da criação e implementação de projetos de mobilidade urbana. Assim como, é imprescindível conhecer o território e utilizar da geografia na construção de uma mobilidade urbana menos segregadora, identificando zonas de riscos, bem como a ampliar o estímulo a participação da sociedade civil.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FÓRUM MOBI (São Paulo). O impacto da inovação tecnológica na mobilidade urbana da cidade de São Paulo. Mobilize, São Paulo, 1 jul. 2020. Disponível em: https://www.mobilize.org.br/estudos/338/o-impacto-da-inovacao-tecnologica-na-mobilidade-urbana-da-cidade-de-sp.html. Acesso em: 1 jul. 2020.